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segunda-feira, 31 de março de 2008

A cura encontrada no mato e no mar

Pesquisadores descobrem anticoagulantes naturais que poderão avançar o tratamento de doenças cardiovasculares e circulatórias. Um dos estudos venceu categoria do prêmio Jovem Cientista
Hércules Barros - Da equipe do Correio
Do veneno de uma lagarta conhecida como taturana pode sair a cura para a trombose. De cor marrom e com espinhos esverdeados, a Lonomia obliqua, nome científico do animal típico do sul do país, solta uma substância para se proteger dos predadores que causa síndrome hemorrágica e pode levar à morte. As experiências com o material tóxico levou à descoberta, por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) de um anticoagulante que poderá ser aplicado em doenças cardiovasculares decorrentes de problemas circulatórios.
“Com financiamento e apoio de laboratórios farmacêuticos, em três anos poderemos falar em escala industrial de um medicamento”, explica a especialista em biologia molecular Ana Beatriz Gorini da Veiga, 29 anos. Ela foi primeiro lugar no XXI Prêmio Jovem Cientista deste ano com a pesquisa e será recebida em Brasília pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no próximo dia 12.
O contato com a lagarta faz com que o veneno entre na corrente sangüínea, com sintomas aparecendo rapidamente, entre 24 e 72 horas. As hemorragias são tanto internas como externas. Há registro de casos de hemorragia intracerebral e insuficiência renal aguda. De difícil diagnóstico, e às vezes confundido com a picada de uma jararaca, os efeitos do veneno viraram objeto de estudo de Ana Beatriz.
Para chegar à versão comercial do anticoagulante vão anos de estudos. Por enquanto, a cientista pesquisou alguns genes que produzem a proteína do veneno e conseguiu separar as tóxicas das que podem ter resultado positivo para a medicina. “Há vários princípios ativos a serem estudados. A pesquisa abriu portas para vários doutorados de estudo das moléculas do veneno”, explica.
Ao analisar os componentes existentes, a pesquisadora montou um catálogo das principais moléculas produzidas pela lagarta. O próximo desafio será produzir proteínas recombinantes para chegar a um antídoto contra o efeito hemorrágico do veneno da taturana e um anticoagulante que sirva para os problemas de saúde ligados à circulação sangüínea.
“A descoberta em seis anos é um prazo rápido para a pesquisa”, ressalta Beatriz. Segundo a pesquisadora, os medicamentos costumam levar de 20 a 50 anos de estudos antes de serem comercializados. “As pessoas não têm noção do quanto o pesquisador sofre até o remédio ficar pronto e chegar às prateleiras da farmácia da esquina”, conta.
Ajuda marinha
O tratamento da trombose e de outras doenças cardiovasculares também ganhou um aliado marinho. Pesquisa do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para comparar a cartilagem humana com a de invertebrados do fundo do mar acabou em uma descoberta promissora no combate a problemas em veias e artérias.
Em órgãos das acídias — espécie oceânica popularmente conhecida como batata-do-mar — foram encontradas substâncias análoga à heparina, principal composto usado nos medicamentos de combate às doenças vasculares. O anticoagulante extraído do animal oceânico promete substituir o tratamento terapêutico atual, à base de heparina comercial produzida a partir de intestinos e pulmões de bovinos e suínos e diminuir riscos terapêuticos. “Por derivar de boi ou porco, o medicamento tradicional pode ter algum agente patogênico, como a proteína priom, causadora do mal da vaca louca”, explica o pesquisador Mauro Pavão, do Laboratório de Tecido Conjuntivo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.
Efeitos colaterais
Segundo Mauro, a pesquisa começou sem a pretensão de desenvolver um novo medicamento para a trombose. A constatação da forte ação anticoagulante da heparina do invertebrado apareceu durante a fase de testes com ratos de laboratório. “Provocamos o aparecimento de trombose venosa e arterial nos camundongos para ver se a substância marinha prevenia a formação de trombose nas veias e artérias dos animais”, detalha.
A eficácia da substância foi menor que a do medicamento utilizado hoje, mas o pesquisador pondera que os efeitos colaterais são menos preocupantes. “A heparina comercial pode levar a sangramento e hemorragia. A heparina retirada da batata-do-mar não apresentou esse efeito colateral nos teste in vitro”, diz.
O QUE É
A trombose venosa ocorre quando há entupimento de alguma veia e geralmente leva à inflamação de órgãos. Já a trombose arterial acomete as artérias responsáveis pela irrigação do coração e do cérebro, causando infarto ou acidente vascular cerebral, o popular derrame. Quase sempre está relacionada à arteriosclerose, inflamação que cicatriza em forma de coágulo e passa a circular na artéria.
(HB)

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